Esse meu artigo também foi publicado no Hôtelier News. Leia AQUI.
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Como estamos na virada do ano, gostaria de pedir licença aos leitores e deixar Vendas, Distribuição, Marketing, Revenue Management, OTAs e outros assuntos que costumo escrever um pouco de lado.
Pensei em compartilhar com vocês palavras que sempre me inspiraram e, pra tanto, escolhi um texto que me marcou.
Estou falando do discurso de J.K.Rowling (renomada, admirada e bilionária autora da série Harry Potter) na formatura dos alunos da Universidade de Harvard de 2008. É uma das maiores lições (pessoais e profissionais) que já ouvi.
O texto não é novo e talvez alguns já conheçam, mas espero que possa inspirá-los tanto quanto a mim.
Recebam essas palavras como o meu desejo de um 2011 incrível, com lições aprendidas, imaginação ampliada e amizades duradouras!
Disse Rowling:
“Tenho a minha frente uma grande responsabilidade e quero confessar-lhes que passei uma semana inteira preocupada em como fazer essa saudação. Então me lembrei da minha formatura, para a qual convidamos a baronesa Mary Warnock.
Tentando lembrar o discurso dela, percebi que não tinha gravado uma palavra do que ela disse. Essa descoberta me aliviou bastante, pois fiquei convencida de que não havia nenhuma possibilidade de influenciá-los negativamente com algo que eu possa dizer hoje inadvertidamente e que os leve a pensar em não seguir as promissoras carreiras para as quais estudaram.
Para descobrir o que deveria lhes dizer hoje, perguntei a mim mesma o que eu gostaria de ter ouvido na minha formatura, e que importantes lições aprendi nos 21 anos que se passaram desde que me formei.
Cheguei a duas respostas. Nesse maravilhoso dia em que estamos todos reunidos para festejar o seu sucesso acadêmico, a minha primeira decisão foi abordar o tema dos benefícios dos fracassos, que certamente acontecerão assim que começarem a trilhar a estrada da vida real. Em seguida, gostaria de destacar as grandes vantagens que vocês podem obter com a sua imaginação.
Fonte: www.timeinc.net Fonte: www.telegraph.co.uk
OS BENEFÍCIOS DO FRACASSO
Em certa época, tive dificuldade para equilibrar a minha própria ambição com aquilo que os mais próximos esperavam que eu fizesse. De uma coisa eu estava convencida: escrever romances era algo que eu sempre desejei fazer.
Contudo, os meus pais, que tinham uma origem humilde e nunca cursaram uma faculdade, tinham uma enorme esperança de que eu não desperdiçasse a minha imaginação super-reativa, com a qual não iria conseguir sobreviver. Eles tinham a expectativa de que eu aprendesse uma profissão, e eu queria estudar literatura inglesa.
Gostaria de ressaltar que não culpo os meus pais em nada pelo ponto de vista deles. Aliás, não se deve nunca culpar os pais quando eles querem nos guiar para uma direção que não é aquela que desejamos seguir.
Quando chegamos a uma certa idade, é fundamental que aceitemos a responsabilidade de pegar no volante, mesmo que não saibamos para onde estamos dirigindo...
Os meus pais fizeram de tudo para que eu não tivesse a experiência de viver na pobreza, quando adulta. Eles foram muito pobres, e eu também já vivi como pobre, entretanto concordo com eles que esta não é uma experiência enaltecedora. A pobreza implica ter medo, estresse e, às vezes, leva a uma depressão profunda.
Conduz geralmente a muitas dificuldades e humilhações mesquinhas. Sair da pobreza por seus próprios esforços é algo que enche qualquer pessoa de orgulho. A pobreza só pode ser romantizada pelos tolos.
Mas o que eu mais temia na idade de vocês não era a pobreza, e sim o fracasso. Apesar de ter tido uma clara falta de motivação na universidade, onde passei mais tempo no restaurante escrevendo histórias do que na sala de aula, devo dizer-lhes que desenvolvi uma grande habilidade de passar nas provas.
Não sou tão tola para supor que, apesar de vocês serem jovens e bem-educados, nunca tiveram desgostos nem passaram por dificuldades. Talento e inteligência não se constituem em uma vacina contra os caprichos do destino, e de forma alguma acho que algum de vocês tenha vivido até agora apenas de privilégios, contentamentos e plena felicidade.
Contudo, o fato de hoje estarem se graduando em Harvard sugere que vocês não estão devidamente acostumados com os fracassos. Cada um de nós pode ser conduzido pelo medo de uma falha tanto quanto pelo desejo de alcançar o sucesso. Em última análise, todos devemos decidir por nós mesmos o que é um fracasso, pois o mundo está ávido por lhe dar um conjunto de critérios para essa classificação.
Sete anos após minha formatura, eu tinha falhado de uma forma estrondosa, em uma escala épica. A minha experiência de grande fracasso incluía um casamento que durou menos de dois anos, fiquei sem emprego, me transformei em uma mãe solteira, tive depressão clínica e fui classificada como pobre na Inglaterra, sem chegar a ser uma sem-teto.
Os receios que os meus pais tinham a respeito do meu desempenho e situação, bem como aqueles sentimentos que eu tinha por mim mesma, ambos acabaram ocorrendo, dentro do padrão mais usual, ou seja: eu era o maior fracasso que conhecia!
Claro que o fracasso não é algo divertido. Aquele período da minha vida foi muito negro. Por que, então, falar sobre os benefícios do fracasso? Simplesmente porque o fracasso significa que você está muito longe do que é vital, essencial ou do que faz a diferença para a sua vida.
Parei, então, de pretender que eu fosse alguém diferente do que realmente era e comecei a dirigir toda a minha energia para terminar o único trabalho que de fato me interessava. Se eu tinha que ser bem-sucedida, isso tinha que acontecer no campo ao qual acreditava que pertencia.
Estava me sentindo bem livre e descontraída, pois o meu maior medo já tinha desaparecido, e eu ainda estava viva. Tinha uma filha que adorava, uma máquina de escrever e uma grande idéia. Por isso, estar na “rocha mais baixa” foi muito bom, pois ela constituiu-se como uma base sólida para que eu pudesse reconstruir a minha vida.
Certos fracassos são praticamente inevitáveis. O fato é que é impossível passar a vida sem cometer enganos, ou seja, viver no estado de falha zero, a não ser que você viva tão cautelosamente que pareça não estar vivendo, pois não participa de quase nada, não se envolve, não decide, ou seja, falha por omissão!
Ao ter cometido falhas, consegui uma competência importante: uma segurança interna que nunca tive, particularmente quando era submetida a provas de avaliação na faculdade. Os fracassos me ensinaram coisas que jamais poderia ter aprendido de outra maneira. Descobri que eu era determinada, persistente e muito mais disciplinada do que suspeitava.
Além disso, tive a confirmação de que possuía amigos de verdade, cujo valor estava bem acima daquelas pessoas que apenas zombavam de mim ou me censuravam. O nosso conhecimento nasce dos revezes que sofremos na vida, o que nos torna mais sábios e fortes.
Ninguém poderá se conhecer plenamente ou ter a convicção correta da força de seus relacionamentos, se não for submetido a fortes adversidades. Quem incorpora esse conhecimento acaba adquirindo um verdadeiro dom para lidar com tudo aquilo que é difícil de sobrepujar.
Para mim, esse conhecimento vale muito mais do que qualquer outra coisa que aprendi até então. Se existisse uma máquina do tempo que me permitisse dizer algo para mim mesma quando eu tinha 21 anos, salientaria que a felicidade pessoal está em saber que a vida não é uma lista de verificações de aquisições ou realizações. As suas qualificações e o seu currículo não são exatamente a sua vida, embora existam muitas pessoas que confundam as duas coisas.
A vida é difícil e complicada; ela está além do controle de qualquer pessoa. A compreensão disso nos capacita a sobreviver às vicissitudes, à sucessão de mudanças e turbulências que enfrentamos em nossa existência.
Após todos os meus fracassos, parei de fingir ser alguém que não eu mesma. Portanto, foram enormes os benefícios dos fracassos para mim!
IMAGINAÇÃO
Agora parto para um segundo tema: imaginação. Vocês poderiam pensar que escolhi esse assunto devido ao importante papel que ele representa na reconstrução da minha vida – mas não é exatamente por isso. Se, de um lado, vou sempre defender o valor das “histórias para dormir”, por outro lado aprendi a valorizar a imaginação em um sentido muito mais amplo.
Imaginação não é apenas a capacidade dos humanos de pressentir o que falta, o que não deve acontecer, o que deveria existir, sendo, portanto, a fonte de todas as invenções e inovações. Em vista da sua capacidade reveladora e transformadora, é o poder que nos possibilita interpretar, compreender e ter empatia por seres humanos cujas experiências nunca vivenciamos.
Uma das mais importantes experiências na minha formação precedeu ao surgimento da série de livros Harry Potter, e ela me instruiu muito para o que escrevi mais tarde nesses livros. Essa revelação veio em forma de um dos primeiros dias de trabalho.
Embora eu estivesse predestinada a escrever histórias durante os meus intervalos para almoçar, consegui pagar o aluguel da minha casa com o salário que recebia do trabalho no departamento de pesquisa da Anistia Internacional (uma organização não-governamental) de Londres.
Lá, no meu pequeno escritório, pude ler várias cartas introduzidas clandestinamente no mundo livre, ou seja, “contrabandeadas” para fora dos regimes totalitários por homens e mulheres que arriscavam as próprias vidas para informar o mundo das atrocidades que estavam acontecendo em seus países. Vi muitas fotografias de pessoas que desapareceram sem deixar rastros, enviadas para a Anistia Internacional por amigos e familiares desesperados.
Li declarações de vítimas de torturas e pude observar imagens que mostravam seus ferimentos. Fiquei ciente do que estava relatado em manuscritos de testemunhas de execuções sumárias, de raptos, estupros e violações extremas de direitos humanos. Muitos dos meus colegas de trabalho eram ex-prisioneiros políticos, pessoas que tinham sido expulsas dos seus países e viviam no exílio, tudo porque cometeram o pecado de pensar de modo diferente e se opor ao governo.
Os visitantes do nosso escritório quase sempre eram pessoas que desejavam obter informações sobre desaparecidos ou que procuravam descobrir o que tinha acontecido com os que tinham deixado seus países. Não esquecerei nunca a entrevista que realizei com um jovem africano; ele tremia incontrolavelmente enquanto descrevia a brutalidade a que fora submetido, em conseqüência da qual quase enlouqueceu. Ele era uns 30 centímetros mais alto do que eu, mas parecia tão frágil como uma criança. Tive o encargo de levá-lo a uma estação de metrô para que pudesse voltar à sua casa. Ao se despedir, aquele homem cuja vida tinha sido destroçada pela crueldade tomou a minha mão e, com requisitada cortesia, desejou-me muita felicidade no futuro.
Outro caso também nunca sairá da minha memória. Eu estava andando por um corredor vazio e, de repente, ouvi gritos de dor e horror, vindos de uma porta fechada atrás de mim. Então a porta de abriu e vi alguém me dizer para trazer rapidamente uma bebida quente, para um jovem desesperado. Ele tinha recebido a notícia de retaliação por ter falado com franqueza sobre o regime vigente no seu país: sua mãe tinha sido presa e executada.
Mesmo com tudo isso, fui muito feliz durante o meu trabalho para a Anistia Internacional, pois vivia num país com um governo eleito democraticamente, no qual havia uma representação legal e onde todos tinham direito a um julgamento honesto, caso infringissem alguma lei.
Diferentemente de qualquer outra criatura viva nesse planeta, nós humanos podemos aprender e compreender, sem ter vivenciado algo. Podemos imaginar e pensar como se estivéssemos no lugar de outras pessoas, em outras situações. Podemos usar essa capacidade para manipular e controlar ou para compreender alguém.
Infelizmente, muitas pessoas abrem mão desse extraordinário poder: a imaginação. Elas optam por permanecer confortavelmente dentro dos limites da sua própria experiência de vidam, sem nunca procurar saber como elas se sentiriam se tivessem nascido com um gênio diferente. Elas podem fechar suas mentes e corações para qualquer sofrimento que não as toque; elas podem se recusar a ouvir os gritos dos que estão “engaiolados”; elas simplesmente não querem saber nada mais.
Penso que o perigo de não imaginar é o de acabarem vendo mais monstros, e bastante assustadores. Mais do que isso: aqueles que optam por não ter empatia com o problema dos outros podem possibilitar a criação de monstros verdadeiros.
Disse o autor grego Plutarco: “Só o que conquistamos intimamente é que irá mudar a realidade exterior.”
Esta é uma afirmação surpreendente, mas comprovada com grande freqüência em todos os dias de nossa vida. Ela exprime, em parte, a nossa inescapável conexão com o mundo exterior, ou seja, o fato de que as vidas das pessoas nos tocam e nos influenciam significativamente.
Quando é que cada um de vocês irá influenciar a vida de outras pessoas?
A sua inteligência, a sua capacidade para o trabalho duro e a educação que aqui receberam proporcionam, a cada um de vocês, uma condição especial e uma responsabilidade única. A maioria de vocês são cidadãos da única superpotência remanescente, mas isso vale também para os que são de outras nacionalidades.
A maneira como vocês votam, o modo como vivem e o jeito com que protestam certamente estabelecerão uma pressão no seu governo, com um impacto que seguramente transpassará as fronteiras. Este é um privilégio que cada um possui e é, ao mesmo tempo, uma obrigação.
Se vocês resolverem por usar seu status e influência para levantar sua voz em favor daqueles que não tem voz; se vocês optarem por se identificar não somente com os poderosos, mas também com os desamparados; se vocês mantiverem a capacidade de se imaginar na vida daqueles que não tem as suas vantagens, então não serão apenas as suas famílias orgulhosas que celebrarão seu triunfo hoje, mas muitos milhares de pessoas cuja realidade vocês ajudarão a mudar para melhor.
Nós não precisamos de mágica para mudar o mundo, pois já carregamos conosco todo o poder que necessitamos para isso: o poder de imaginar o melhor!
AMIZADES DURADOURAS
Tenho uma última mensagem para vocês sobre algo que aprendi quando tinha 21 anos. Praticamente todos os colegas com os quais me graduei continuaram meus amigos pelo resto da minha vida. Alguns se transformaram em padrinhos dos meus filhos, outros me auxiliaram muito quando estive nos meus momentos de dificuldade, e outros tantos não me processaram quando usei seus nomes e suas características para criar muitos dos meus personagens.
Na minha formatura, estávamos envolvidos por uma onda de enorme afeição e carinho que foi sendo construída ao longo do nosso tempo e convívio. Por isso, hoje quero lembrar a vocês que não existe nada melhor do que as amizades construídas no tempo de faculdade.
No futuro, mesmo que vocês não se lembrem de uma única palavra desse meu discurso, espero que não se esqueçam do que disse Sêneca: Como um conto, assim também é a vida: não importa o seu tamanho, o que vale é se é boa.
Sejam todos muito felizes!”
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