quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Como vivíamos sem Revenue Management?

Leia também esse meu artigo no Hotelier News AQUI.
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Como vivíamos sem Revenue Management?



Quando a demanda diminui, a tendência dos hoteleiros é trilhar o caminho que "parece ser" o mais fácil: baixar tarifas. Na verdade, tarifas reduzidas, em pouquíssimos casos, geram mais demanda.

Com o revenue management (gerenciamento de receitas, na tradução literal) é possível trabalhar com descontos e tarifas lucrativas ao mesmo tempo.

Na definição mais conhecida, escrita por Robert Cross (o guru do revenue, de acordo com o The Wall Street Journal), "RM é a venda do produto certo, para o cliente certo, na hora certa pelo preço certo". Eu só adicionaria: "através do canal de distribuição certo" (mas isso é assunto para um próximo artigo).
Em outras palavras, RM é oferecer tarifas e controle de inventário que são mais apropriados para a demanda prevista, com o objetivo final de maximizar receita. Em termos práticos, isso significa não vender algo hoje a preço baixo se isso pode ser vendido amanhã a um preço maior. Por outro lado, também significa permitir que algo seja vendido hoje por um preço menor se, por ventura, correr o risco de não ser vendido.
Muitos acreditam que companhias aéreas foram pioneiras em trabalhar com RM, mas a hotelaria trabalhou com isso manualmente (especialmente os resorts) por muitos anos.

De 1940 ao final dos anos 70, o governo americano controlava os preços do mercado doméstico de aviação. Em 1978, com a desregulamentação, foi permitido às companhias aéreas definirem suas próprias tarifas. Nesse momento, muitas delas já estavam implantando sistemas de centrais de reservas, que forneciam históricos de voos, preços e vendas em seu database (banco de dados). No início dos anos 80, começaram a trabalhar com yield management (gerenciamento de rendimentos, nome mais antigo do atual revenue management). No final dos anos 80, a hotelaria abraçou definitivamente a ideia em função do exitoso uso do RM, já controlado eletronicamente pelas companhias aéreas.
O RM não só incrementa o lucro de um hotel, mas também melhora seu posicionamento no mercado. Em outras palavras, o hotel mais rentável também se torna o de maior "valor" e o mais competitivo.
De acordo com Robert Cross, empresas podem esperar otimização de receita entre 3% e 7%, resultando no aumento do lucro entre 50% e 100%.

Existem inúmeras formas e níveis de implantação de revenue management por aí. Tudo depende do conhecimento e habilidade de quem implementa e gerencia. Mas todos são válidos.

Alguns hotéis melhoraram muito na sua atuação com RM mas, inacreditavelmente, muitos ainda têm o pensamento simplista de vender o máximo número de apartamentos e, com isso, obter 100% de ocupação. Acredito que todos já ouviram: "Prefiro tarifas mais baixas a apartamentos vazios". Só que 100% de ocupação nem sempre traz a maior receita possível no período.
A missão do RM é vender o maior número de apartamentos possível sim, mas ao melhor preço possível também. Sua meta é "lucro".
Sua análise leva em conta os vários tipos de segmento de mercado, com diferentes expectativas de preço e que valorizam outros fatores além de tarifa. Tudo bem oferecer tarifas mais competitivas para atrair um segmento de mercado mais sensível a preços, mas limite a venda.
A solução criada para isso foi, em um mercado de descontos, limitar o número de apartamentos para serem vendidos a tarifas mais baratas e, depois, escalar para os próximos níveis. Saber quando fechar tarifas baixas é a chave do revenue management.

O imediatismo e a falta de visão de negócio a longo prazo ainda está presente em algumas administrações. Mas, mesmo enfrentando esse tipo de mentalidade, o fato é que alguns hotéis melhoraram muito seu entendimento sobre o assunto. O RM passou de uma função técnica de reservas para uma prática crucial na estratégia de distribuição e otimização de receita.

Outro ponto que ainda requer atenção é o treinamento. A abordagem tem que ser um conhecimento sólido de matemática, estatística e, sobretudo, da teoria de Mecanismo de Mercado - Oferta e Demanda. Os cursos de hotelaria ainda não aprofundam o suficiente em matérias como cálculo, estatística e introdução a teoria econômica.

Não adianta entender como o sistema funciona e quais "botões apertar". O mais importante é saber como criar a estratégia, coordenar os esforços da equipe para manter essa estratégia, implementá-la eficientemente através dos canais de distribuição e "Educar" (o grande lema do RM).

Como diz o revenue manager mais obcecado por bons resultados que conheço, Rogério Rubim, atualmente, RM do Sofitel Rio de Janeiro:

"Odeio duas frases que sempre ouço sobre RM:
A primeira é: RM é a ferramenta do futuro!
1 - RM não é ferramenta;
2 - o futuro já passou a pelo menos 5 anos.
A segunda frase é pior ainda: Impossível fazer RM com baixa ocupação!
O verdadeiro RM vai mostrar seu valor, não em períodos de alta ocupação, mas justamente em como ele vai proceder para recuperar o resultado em um quadro de baixa demanda / baixa ocupação."

Por falar na posição de revenue manager, ainda estamos longe, no Brasil, de reconhecer esses profissionais como parte do comitê de direção, reportando direto ao gerente geral e parte importante na criação do plano de negócios e estratégia do hotel.

Por outro lado, muitos revenue managers ficam estagnados nos detalhes de "tracking" (processo rotineiro de aquisição de informações para monitoramento de resultados), recolhimento de tarifas da concorrência e análises e relatórios para o time de vendas.

A lista de ações que focam o passado pode ser longa e, longe de serem irrelevantes, é importante lembrar que essas são somente tarefas. A automação atual já pode ser responsável por boa parte delas. Ou seja, o foco deve ser no plano estratégico e no contínuo aperfeiçoamento e identificação de novos métodos para atingir os objetivos.

Hoje não existem mais dúvidas que o RM "traz mais dinheiro" para os hotéis. Ainda assim, no Brasil, podemos dizer que a "cultura" de RM está "engatinhando". Já nos EUA, o RM passa pela "adolescência". O trabalho de amadurecimento está nos quadros brancos e anotações dos estudiosos do assunto, designers de sistemas e programadores.

Mas, nada disso vale sem um envolvimento e compreensão dos altos executivos dos hotéis. De acordo com a Hospitality Sales & Marketing Association International (HSMAI), as grandes tendências de revenue management são:

1) Revenue managers dedicados a ajudar a empresa na aquisição de novos hotéis, completando a análise de mercado e de viabilidade, criando projeções de receita e 'budget" (orçamento) mais exatas para os novos donos;
2) RM trabalhando sobre todas as receitas do hotel e não somente receitas de apartamentos. A evolução tecnológica e organizacional ajudará na visão mais holística do RM. (Muitas redes multinacionais de hotéis já estão aplicando o RM para Eventos e Alimentos &Bebidas. Conceito ainda pouco difundido no Brasil);
3) Mensuração de lucro por apartamento disponível versus receita por apartamento disponível;
4) Criação de uma estratégia de distribuição apropriada ao inventário e posicionamento do hotel no mercado;
5) Foco no resultado final do hotel com a finalidade de tornar, realmente, o negócio mais rentável.

A PKF Hospitality Research, empresa de pesquisa de mercado de hotelaria, relata que, somente em 2012 (ou até 2013), a demanda voltará ao normal e as diárias médias voltarão a crescer como antes. Com base nisso, seguem alguns conselhos que podem ajudar na continuidade de maximização dos seus lucros:

1. Arrisque-se - risco pode incluir renegociar contratos com seus clientes mais valiosos, por exemplo;
2. Saiba dizer não. O medo de perder o cliente, por achar que ele irá para concorrência se não receber o preço que deseja, além desvalorizar sua marca, vai impedi-lo de aplicar um RM eficaz;
3. Persiga, insistentemente, uma margem mínima de erro em seu "forecast" (previsão de vendas);
4. Não diminua tarifas, aumente receita!
5. Maximize e gerencie tarifas por segmento de mercado.

Feito tudo isso, relaxe um pouco e assista seu RevPar (*) decolar.

Infelizmente, ainda encontramos pouquíssimo material sobre o tema em português. Se você é hoteleiro, não deixe de se inteirar do assunto. Afinal, a hotelaria não vive mais sem revenue management.
(*) RevPar = receita por apartamento disponível. Pode-se calculá-la de várias maneiras, mas, as mais conhecidas são: diária média x ocupação ou receita total de hospedagem / número de apartamentos disponível para venda.

Leia mais sobre Guerra de Preços AQUI e sobre Revenue Management AQUI.

5 comentários:

gabi otto disse...

Recebo vários emails legais sobre os artigos publicados no Hôtelier News. Tomei a liberdade de postar alguns (a parte que se refere ao artigo) aqui.
Obrigada a todos que escrevem. Sempre terão resposta.
GABRIELA OTTO
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Olá Gabriela,
Não sou e nunca fui hoteleiro. Apesar de sentir enorme atração pela tarefa de gerenciar um hotel.
Escrevo para dizer que adorei seu artigo no Hotelier News e que o mesmo foi por mim distribuído a todos os hotéis que fazem parte do corpo de mantenedores do Aracaju Convention, meu atual desafio.
Parabéns pela brilhante abordagem e espero que, se um dia vier visitar esta linda cidade de Aracaju, tenhamos oportunidade de nos conhecermos pessoalmente.

Um forte abraço e bom final de semana.

Rui Carvalho
Superintendente Executivo
Aracaju Convention & Visitors Bureau

gabi otto disse...

Outro email com comentários sobre o artigo que tomei a liberdade de postar aqui.(Sempre colocando somente a parte que trata exclusivamente do artigo).
Obrigada,
GABRIELA OTTO
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Prezada Gabriela,

Há algum tempo venho pesquisando e lendo artigos que tratam do revenue management pois me interesso bastante por esse assunto.

Dessa maneira, escrevo-lhe para agradecer pois o seu artigo foi muito importante e esclarecedor para mim.

A leitura contribuiu para meu arendizado e para aprimorar meus conhecimentos sobre o assunto. Tenho certeza que um material desse nível será valioso em busca do meu desenvolvimento profissional (e dos demais profissionais da hotelaria também).

Cordialmente,

Roberta Adame
Reservas
Novotel Vitória

gabi otto disse...

Mais um email...
GABRIELA OTTO
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Olá Gabriela,
Parabéns por seu lúcido artigo na hoteliernews.
Gustavo Alcure

gabi otto disse...

Um email muito legal de quem trabalha e entende mesmo do assunto...
Obrigada,
GABRIELA OTTO
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Gabriela:
Li teu artigo no Hotelier News, parabens. Muito bem escrito, objetivo, abordagem perfeita. Abr,

Gabriel Waldman
TELELODGE BRASIL LTDA
www.telelodge.com.br

gabi otto disse...

Esse email entrou em uma área que não entendo muito...tenho que pesquisar mais.
Obrigada,
GABRIELA OTTO
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Oi Gabriela,
Tudo bem?
Meu nome eh Fabricio, estou estudando Hotelaria em Miami e adoro ler suas materias no hotelier news.
Gostaria de sugerir que voce escrevesse algo relacionado 'a vendas no departamento de A&B.
Sucesso!
Fabricio Nascimento